O sonho é a explosão dos súbditos na ausência do rei. Mas cada um de nós é uma tribo em que somente um chefe tem os privilégios da vida iluminada. Só ele tem relações expressas com o mundo exterior e o único a reinar nas horas de vigília. Mas abaixo dele há um pequeno povo de cadetes expulsos, de insurrectos punidos, de hóspedes indesejáveis - exilados da zona da consciência, mas donos do subconsciente, encerrados no subterrâneo, mas prontos para a evasão, vencidos mas não mortos. E como a alma tem o seu subsolo, escuridão palúdica encimada pela varanda iluminada da consciência, mantém encerrados lá em baixo os intempestivos e preocupantes rivais. Às vezes, conseguem emergir, no meio-dia do eu dominante, mas por breves momentos - em particular, quando o homem está só consigo mesmo, sem testemunhas. E, em certas ocasiões, um deles consegue derrubar para sempre o chefe legítimo, e o homem, em virtude dessa revolução triunfante, torna-se assassino, louco ou génio - por vezes santo.
Giovanni Papini
A história de baixo grita da cave para a de cima. Às vezes consegue empoleirar-se. Chegar e tocar na outra. Riscá-la. Mudá-la. Mudar-nos.
Sonhamos histórias. Sonhamo - nos. Sonhamos de olhos fechados para abrirmos os olhos à realidade.
Morfeus
Joana Cruz